Mais um plano de apoio (e não vai ser o último)
O Episódio #15 do ECO Insider é exclusivamente dedicado às consequências do coronavírus.
Nas próximas horas, o Governo vai anunciar mais um pacote de apoio às empresas e às famílias. Acompanhem no ECO todas as últimas notícias.
Vivemos um novo normal, e como em apenas uma semana tanta coisa mudou. Estamos sob estado de emergência, a democracia não foi suspensa, mas a economia já está mesmo parada e esta é a primeira informação relevante: A economia portuguesa vai entrar em depressão no segundo trimestre, não é em recessão, mas em depressão. E os vários organismos, como o Banco de Portugal, estão a trabalhar com um cenário de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Já na próxima semana, quinta-feira, se saberá o que vão ser as previsões do supervisor, a recessão é certa, falta saber a sua profundidade.
Não há memória de uma queda da economia desta grandeza, nem sequer no período da troika. E esta depressão já mereceu, da Comissão Europeia e do BCE, medidas absolutamente excecionais. Pela primeira vez na história da União Europeia e da Zona Euro, a Comissão Europeia suspendeu as regras orçamentais para que os países possam enfrentar a crise económica provocada pelo coronavírus.
Hoje, e isto é novo e nunca foi feito antes, acionamos a cláusula de salvaguarda geral. Isto significa que os Governos nacionais podem introduzir estímulos orçamentais na economia “tanto quanto precisem”.
Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, esta sexta-feira, 20 de março.
E o BCE, o que anunciou? Depois da bazuca de 750 mil milhões de euros de compra de ativos públicos e privados, o BCE lançou novas medidas de emergência para incentivar a banca a ajudar a economia real a recuperar do impacto da Covid-19. A autoridade de supervisão bancária europeia anunciou, esta sexta-feira, a flexibilização das regras de supervisão que serão aplicadas aos empréstimos concedidos pela banca, com garantias estatais, para combater o surto.
O BCE apoia todas as iniciativas que tenham como objetivo oferecer soluções sustentáveis para os devedores temporariamente em stress no contexto do atual surto. Com este objetivo, o BCE introduziu flexibilidade de supervisão no tratamento de non-performing loans (NPL), em particular para permitir aos bancos beneficiarem plenamente das garantias e moratórias postas à disposição pelas autoridades públicas.
E em Portugal, o que sabe é “poucochinho”, mas também se sabe que vem aí mais. Muito mais. Porque esta crise não pode ser tratada em termos normais. Não é sequer uma crise económica, é uma crise de saúde pública que se transforma numa depressão económica, porque nunca vivemos tempos como estes pelo menos desde a segunda guerra mundial. Ainda esta sexta-feira, o Governo fará mais uma apresentação ao país, com novas medidas. E há um princípio que vai ter de ser adotado: Não chega permitir o endividamento em condições especiais e com garantia do Estado, não chega suspender pagamentos ao Estado agora para o pagamento fracionado mais tarde. Estamos a falar de dívida, à banca e ao próprio Estado. Serão necessárias medidas de capital ou de perdão de responsabilidades. É este o tamanho do que estamos a viver. Literalmente, uma crise do tamanho do mundo.
Episódio #15 do ECO Insider
“Recessão a dois dígitos no segundo trimestre do ano”
E porque vivemos tempos anormais, o ECO Insider desta semana foi, também ele, especial. Foi gravado via skype (e para quem quiser ver o video, pode entrar aqui nesta notícia do ECO). Neste Episódio #15, com o jornalista Pedro Santos Guerreiro, discutimos o que está em causa nos impactos económicos, desde logo na recessão profunda no segundo trimestre deste ano, “a dois dígitos”.
S&P Global: “The Global Recession Is Here And Now”
No ECO Insider, deixo-lhe um exclusivo, a avaliação do departamento de research da S&P Global sobre os efeitos económicos e de mercado do novo coronavírus no mundo.
“we now forecast a global recession in 2020, with global GDP rising just 1.0%-1.5% in the full year.
China. Although the health situation there has stabilized, much of the economic damage has already been done. We now project growth of 2.7%-3.2% for 2020, with a flat second quarter and a recovery starting in the second half. Chinese authorities don't appear to be planning a big fiscal stimulus, though targeting spending will continue, and the People's Bank of China will intervene to keep liquidity flowing.
Eurozone. The virus continues to spread, and an increasing portion of the Eurozone population remains at or near lockdown. Tourism and investment have been the hardest-hit areas so far. We now expect the eurozone economy to contract 0.5%-1.0% this year. COVID-19 will affect first-quarter data (when we expect contraction) somewhat, but we believe the more significant hit will be in the second quarter, with a modest recovery to follow. The European Central Bank seems unlikely to lower policy rates much, but it will use cheap long-term refinancing operations (LTROs) and targeted LTROs to smooth the operation of the financial sector. We also expect stepped-up EU-level fiscal efforts to support the hardest-hit firms and populations.
U.S. The impact of COVID-19 in the U.S. has escalated rapidly, with restrictions following Europe with a shortening lag. The sectoral hits should be similar, with the key addition of the oil and gas sector, given the plunge in global prices. Owing to the strong start to the year and the lag in many key metrics, it looks like the U.S. will post marginally negative growth in the first quarter, with the big hit coming in the second quarter (a seasonally adjusted, annualized contraction of about 6%) before recovery begins in the second half of the year. The Fed has already acted, and its intentions are clear. We expect short-term, targeted fiscal stimulus at the federal level soon.
Nota: Este análise, assinada pelo Global Chief Economist, Paul F Gruenwald, tem a data de 17 de março e para a semana haverá novos desenvolvimentos.
E consequências do coronavírus nas empresas? TAP precisa de pelo menos 500 milhões de euros
A TAP vai ter de receber uma nova injeção de capital, para cobrir as perdas gigantescas com a paragem dos aviões e os cancelamentos de voos. O ministro Pedro Nuno Santos já sabe qual é o ponto de partida das necessidades de capital da companhia, na qual o Estado tem 50% do capital e a Altantic Gateway tem 45% (os outros 5% estão nas mãos dos trabalhadores). Qual é? 500 milhões de euros. Leu bem, 500 milhões. Pelo menos. Mas provavelmente será uma fatura mais pesada.
O Governo não deixará cair a TAP, a Comissão Europeia já fez saber que está disponível para viabilizar ajudas públicas às companhias aéreas. Só falta saber se o consórcio privado, David Neeleman e Humberto Pedrosa, estão disponíveis para acompanhar o Estado neste reforço (obrigatório) de capital ou, em alternativa, a diluirem a sua participação acionista. E tendo em conta os montantes que estão em cima da mesa, a probabilidade de desaparecerem é enorme. Vamos ter uma TAP 99% pública?
As agências de rating, essas, já estão a descontar o que se passa na indústria. A Standard & Poor’s cortou o rating da TAP em três níveis devido ao impacto da pandemia de Covid-19. É a segunda agência de notação financeira a fazê-lo, depois de a Moody’s ter anunciado também um downgrade esta quinta-feira. Em ambos os casos está no nível de investimento especulativo.
A agência atribuiu um rating de longo prazo — que avalia a probabilidade de incumprimento da TAP — de B, com credit watch negativo — estava em BB-. Simultaneamente, a S&P reviu em baixa o rating da emissão de obrigações senior unsecured (375 milhões de euros com maturidade em 2024) para B, três degraus abaixo do rating atribuído em novembro.
Coronavírus ‘mata’ a OPA do Benfica? Ou foi a CMVM?
Se o turismo e a aviação são negócios postos em causa, o futebol é outro. Os campeonatos estão parados, as competições europeias também e até o campeonato da Europa foi adiado para 2021. No meio desta crise, o Benfica lançou uma OPA sobre a SAD do clube, que já controla a mais de 65%, e anunciou um preço de cinco euros por ação, com um investimento de mais de 32 milhões de euros.
Os resultados do primeiro semestre do ano foram, literalmente, de campeões:
A Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Benfica registou um resultado líquido de 104,2 milhões de euros no primeiro semestre do exercício de 2019/20, “o que representa uma melhoria de 639,8% face aos 14,1 milhões de euros” do período homólogo, segundo um comunicado oficial enviado ao mercado. Estes resultados, históricos, são consequência direta da venda do passe do jogador João Félix ao Atlético de Madrid “por um montante de 126 milhões de euros”, o que permitiu uma mais-valia de 108,2 milhões de euros.
Estes números são do passado, as perdas de receita são enormes. O Jornal Económico desta sexta-feira antecipava que a OPA está em avaliação, mas a verdade é que a esta hora, a OPA já estará mesmo morta.
O coronavírus é, por outro lado, uma boa justificação para uma oferta que, na verdade, ainda não saiu da CMVM, o polícia das bolsas. A CMVM questiona os conflitos de interesse entre Luis Filipe Vieira e José António dos Santos, vulgarmente conhecido por “rei dos frangos”. O empresário tem negócios com o presidente do Benfica e, nas últimas semanas, até aumentou a sua posição acionista para mais de 13% do capital. E até já disse que não quer vender a sua posição. Uma OPA, portanto, em fora-de-jogo.
Boa semana, com muito ECO, e sobretudo, fiquem em casa
António Costa
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